Porque é que as declarações de um tipo conhecido por mentir e deturpar factos para atingir os seus objectivos (Bush) tem mais tempo de antena que os manifestantes contra o militarismo em Faslane?
Porque é que uma manif da extrema-direita em Portugal tem honras de abrir todos os telejornais, mas uma manif para a integração d@s imigrantes mal tem cobertura mediática?
Porque é que reportagens sensionalistas sobre a suposta insegurança em Portugal abrem telejornais, mas as reportagem sobre as condições de vida em bairros degradados (e as causas disso, já agora) são relegadas para o fim dos mesmos telejornais?
Porque é que fabricam e nos vendem um "arrastão", e depois não nos esclarecem sobre a inexistência do mesmo?
Porque é que nós somos bombardead@s com as intenções de ajuda dos países do G8 aos países africanos, mas precisamos de ir ao Indymedia para descobrir alguma coisa sobre a contra-cimeira do G8?
Porque é que nos explicam que as dívidas externas dos países africanos vão ser perdoadas, mas não nos explicam o porquê dessas dívidas existirem ou as contrapartidas desse perdão?
Porque é que nos impedem de conhecer as alternativas, se este é o melhor dos mundos possíveis?
Suspeito que eu seja suspeita por não ser heterossexual. Suspeito que eu seja suspeita por não ter um credo religioso. Suspeito que eu seja suspeita por não ser nacionalista. Suspeito que eu seja suspeita por ser de esquerda. Suspeito que eu seja suspeita por não me moldar a papéis sociais de género. Suspeito que eu seja suspeita por ser feminista.
Suspeito vagamente que estas ficções belíssimas que nos contam em relação às nossas identidades sexuais, culturais, políticas, ateias/ agnósticas/religiosas, etc, são só a parte mais abstracta da realidade. Suspeito que estas ficções /se sustentam em/ e sustentam/ ficções económicas.
Suspeito muito, muito vagamente que, quando nos dizem para aceitar este mundo como é, que não é possível mudá-lo; que não vale a pena lutar, porque a homofobia, o racismo, o sexismo, a xenofobia, a intolerância política e religiosa vão existir sempre; que nos devemos contentar com o que temos; que não vale a penar tentar mudar o sistema; nos dizem também que a nossa vida não nos pertence a nós; que os nossos corpos não são nossos; que a nossa força de trabalho é do capital e ao capital deve servir, não a nós; que é preciso fazer sacríficios em honra da deusa economia, sem perguntar porquê, porque nos dizem que não há alternativas, e se nós temos uma alternativa, então não é viável.
Suspeito vagamente que nos contam muitas mentiras todos os dias, só para manter uma ficção social. Suspeito muito vagamente que o problema principal do sistema, ou melhor, a genialidade do sistema foi fazer-nos acreditar em hierarquias de poder, foi convencer-nos que há gente com mais valor que outra. Suspeito vagamente que a raiz dos nossos problemas está aí.
E, de vez em quando, esta suspeita parece materializar-se e desembocar numa perplexidade. Ou numa constatação. Escolham vocês.