º I'm No Lady º

I'M NOT an ballbreaker, bimbo, bitch, bra burner, bull dyke, butch, carmen miranda, china doll, dumb blonde, fag hag, femme fatale, feminazi, geisha, good catholic girl, home girl, lady boss, lipstick lesbian, lolita, mother teresa, nympho, old maid, pinup girl, prude, slut, supermodel, tomboy, trophy wife, vamp, wicked stepmother or yummy yummy... Don't stereotype me!

quinta-feira, setembro 01, 2005

º Que farei quando tudo arde? º

Eu, cá por mim, leio. Leio compulsivamente livros sobre lésbicas, fufas, femmes, butch(e)s, queer, ou gajas que simplesmente têm sexo com outras gajas. Leio sobre identidades, corpos, sexo, relações, confusões, demandas de felicidade, de um caminho, de um espaço para viver, desejos e olhares escondidos, apagados.
Leio histórias que a história não conta. E tenho de as ler em inglês, sobre os EUA, o Canadá, a Irlanda, Londres dos anos 80, Berlim nos 30, Berlim renascida agora entre o SM e o queer, Paris, Barcelona, Amesterdão, Porto Rico, Austrália, Escócia, Polónia, Israel. Que em português, sobre Portugal, o silêncio impera. O meu passado é internacional.
Nós por cá ardemos. Nós por cá usamos queer porque é fashion, e é estrangeiro e soa bem. Nós por cá esquecemos que queer é ser fufa, é ser paneleiro, esquisitóide, anormal. Nós por cá perdermos todas as batalhas enquanto não percebermos que a batalha já não é legal. É cultural. É política. De representação e conquista de espaço.
Nós por cá temos uma ameaça fascista a crescer e é altura de a enfrentar. Nós, que crescemos e sobrevivemos na sombra, não podemos esquecê-lo. Não nos podemos dar ao luxo de remeter as ameaças para a sombra, à espera que desapareçam. Resultou connosco? Não. Continuamos por cá, apesar de nos terem apagado da história, das representações sociais, até mesmo da linguagem. O que se remete para a sombra não desaparece. Cresce e aparece. E quando aparece, não se pode ignorar. A liberdade não brota, conquista-se. Os direitos também.
E assim, enquanto tudo arde, eu leio. Leio a minha história que foi apagada. Reconstruo-me e preencho os espaços em branco. Quem não está escrit@ em livro algum, facilmente renasce das cinzas. Quem viveu na sombra, sabe que a sombra é só o que não se quer ver, ou enfrentar. Mas que existe apesar de tudo. Agora que o espaço da luz está quase conquistado (igualdade legal formal), é nas sombras da cultura que a guerra continua. Dos fascistas à esquerda moralizadora, da classe trabalhadora às elites intelectuais e económicas, enquanto as práticas sociais não mudarem, nada está garantido.