º Setúbal Revisited º
Uma vez mais o encontro é à entrada do Tribunal de Setúbal. A cena repete-se, as pessoas chegam com as faixas, as pancartas e com a sua indignação.
À porta do tribunal, dois actores representam o julgamento de uma mulher por aborto, ironizam o juíz e a lei hipócrita que temos: "A lei prevê que serás mãe, por isso é teu dever a maternidade (...) cometeste um crime e assim te condeno!". Um grupo de mulheres surge gritando "não, não! Aborto não é crime, o crime está na lei!" e rodeia a mulher sentada no banco dos réus impedindo a sua condenação.
Entre a multidão reconheço pessoas da UMAR, da Não te Prives, do BE, do PCP, das M.A.R.I.A.S, do PS. Algumas caras são já conhecidas, faz pensar que o activismo é um meio pequeno e que a falta de envolvimento político por parte d@s cidadãs/ãos é uma realidade bem vísivel.
Sentada na sala de audiências cheia, penso na indignação que sinto ao ver as 3 mulheres mais à frente enquanto aguardam a sentença. Penso que a Justiça deixou de servir as pessoas para servir um sistema, ao ponto de se tornar totalmente autista e disfuncional. Tenho uma sensação de esmagamento, ali dentro tudo parece pesado e opressivo. Enquanto a juíza lê o seu parecer que ninguém consegue decifrar, as pessoas olham umas para as outras à espera de alguma coisa. O julgamento é adiado.
Pensei que viria de Setúbal com o sorriso de uma absolvição, mas não.
O respeito pelo corpo e liberdade de escolha alheia parece ser ainda um conceito dito a tom baixo para um ouvido duro.
Por isso, e não só por isso há que continuar a lutar:
Aborto livre e seguro para todas as mulheres, JÁ!
<< Home