º Pequena viagem pelo feminismo II º
E como hoje é 8 de Março, aqui fica mais um pedaço de feminismo... Este daquele que eu gosto, já que questiona o que dizem sempre que é natural, este que aponta outras direcções...
Em resposta ao rumo essencialista que a teoria francesa da diferença dirigiu à discussão feminista, surgiu Gender Trouble- Feminism and the subversion of identity de Judith Butler (1990).
A proposta de Butler é simples: as diferenças entre mulheres e homens residem não em características intrínsecas, mas extrínsecas; não numa suposta base natural associada ao sexo, antes nos comportamentos identificados como masculinos e femininos. O género enquanto performance versus o género enquanto categoria fechada.
Para Butler, o género, enquanto categoria fluida, é tão sólido quanto as práticas sociais e culturais que o constituíram ao longo do tempo; um efeito de gestos, posturas, movimentos repetidos constantemente.
Em 1991, Donna Haraway no Manifesto Ciborgue, criticou igualmente as limitações da discussão feminina em relação ao corpo, propondo uma construção de corpo alternativa: o ciborgue.
Em linhas gerais, o Manifesto Ciborgue, é uma crítica ao feminismo totalitário branco de classe média, que criou a ficção da categoria "mulher"[1] ; bem como ao imperialismo ocidental sobre o corpo - concepção tradicional e fechada do corpo feminismo e, como já referido, da categoria mulher.
Obstando às categorias fechadas de homem e mulher (e respectivos corpos) propõe o ciborgue como centro de confluência de dualismos, de diluição de fronteiras (humano e animal / natureza e máquina/homem e mulher).
Sugere uma nova forma de organização e filiação baseada em laços de afinidade - laços que se têm por escolha e não por sangue ou semelhança física, na qual o ciborgue surge como modelo unificador de convergência política (enquanto entidade que re- elabora os conceitos tradicionais e permite a unificação, por afinidade, de categorias como raça ou género), uma vez que as identidades são múltiplas e não se podem encarar separadamente - negra, lésbica, mulher - antes se entrecruzam. Assim, o ciborgue, projecto de entidade que aprendeu com os erros do passado, promove a diversidade em vez da unidade (a unidade sendo entendida como o grande objectivo do homem branco ocidental) e enquanto entidade corpórea independente define-se por si, sem que a sua identidade seja definida por oposição (sem se tornar num caso de estudo; sem ser o outro).
Woolf revela o início do processo: o questionamento das divisões rígidas e das diferenças aí alicerçadas "naturalmente". O processo de desconstrução inicia-se com uma consciência de diferença identitária (corporal, de características pessoais), no sentido de eliminar as desvantagens e diferenças económicas, legais, sociais. As fronteiras de diferenciação estão inscritas no corpo do sujeito e nas características que lhe são (socialmente) atribuídas, aceites.
Tanto Butler como Haraway destroem essas fronteiras finais. Haraway propondo um entendimento alternativo do corpo: um lugar de confluência de diferenças pessoais; de recriação de identidades que se entrecruzam e não se podem separar em categorias estanques como o são mulher ou homem.
Butler revolucionando o entendimento de criação de identidades (a proposta de Butler aplica-se a outras identidades cuja criação parte do corpo: tatuagens, piercings, transsevuais, travestis), como um conjunto de práticas, comportamentos. A identidade, as categorias criadas nos gestos quotidianos aceites ou rejeitados socialmente. A diferenciação de género residindo não no corpo do sujeito, mas no entendimento que os outros fazem da construção do corpo do sujeito.
Sobre teoria queer, mais tarde outras postas virão…
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A proposta de Butler é simples: as diferenças entre mulheres e homens residem não em características intrínsecas, mas extrínsecas; não numa suposta base natural associada ao sexo, antes nos comportamentos identificados como masculinos e femininos. O género enquanto performance versus o género enquanto categoria fechada.
Para Butler, o género, enquanto categoria fluida, é tão sólido quanto as práticas sociais e culturais que o constituíram ao longo do tempo; um efeito de gestos, posturas, movimentos repetidos constantemente.
Em 1991, Donna Haraway no Manifesto Ciborgue, criticou igualmente as limitações da discussão feminina em relação ao corpo, propondo uma construção de corpo alternativa: o ciborgue.
Em linhas gerais, o Manifesto Ciborgue, é uma crítica ao feminismo totalitário branco de classe média, que criou a ficção da categoria "mulher"[1] ; bem como ao imperialismo ocidental sobre o corpo - concepção tradicional e fechada do corpo feminismo e, como já referido, da categoria mulher.
Obstando às categorias fechadas de homem e mulher (e respectivos corpos) propõe o ciborgue como centro de confluência de dualismos, de diluição de fronteiras (humano e animal / natureza e máquina/homem e mulher).
Sugere uma nova forma de organização e filiação baseada em laços de afinidade - laços que se têm por escolha e não por sangue ou semelhança física, na qual o ciborgue surge como modelo unificador de convergência política (enquanto entidade que re- elabora os conceitos tradicionais e permite a unificação, por afinidade, de categorias como raça ou género), uma vez que as identidades são múltiplas e não se podem encarar separadamente - negra, lésbica, mulher - antes se entrecruzam. Assim, o ciborgue, projecto de entidade que aprendeu com os erros do passado, promove a diversidade em vez da unidade (a unidade sendo entendida como o grande objectivo do homem branco ocidental) e enquanto entidade corpórea independente define-se por si, sem que a sua identidade seja definida por oposição (sem se tornar num caso de estudo; sem ser o outro).
Woolf revela o início do processo: o questionamento das divisões rígidas e das diferenças aí alicerçadas "naturalmente". O processo de desconstrução inicia-se com uma consciência de diferença identitária (corporal, de características pessoais), no sentido de eliminar as desvantagens e diferenças económicas, legais, sociais. As fronteiras de diferenciação estão inscritas no corpo do sujeito e nas características que lhe são (socialmente) atribuídas, aceites.
Tanto Butler como Haraway destroem essas fronteiras finais. Haraway propondo um entendimento alternativo do corpo: um lugar de confluência de diferenças pessoais; de recriação de identidades que se entrecruzam e não se podem separar em categorias estanques como o são mulher ou homem.
Butler revolucionando o entendimento de criação de identidades (a proposta de Butler aplica-se a outras identidades cuja criação parte do corpo: tatuagens, piercings, transsevuais, travestis), como um conjunto de práticas, comportamentos. A identidade, as categorias criadas nos gestos quotidianos aceites ou rejeitados socialmente. A diferenciação de género residindo não no corpo do sujeito, mas no entendimento que os outros fazem da construção do corpo do sujeito.
Sobre teoria queer, mais tarde outras postas virão…
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